Wilson Tosta / rio
De 2 fevereiro de 1947 a 14 de dezembro de 1949, em 11 viagens de navio, 7.634 pessoas foram trazidas da Europa para o Brasil em uma operação organizada pela Missão Militar Brasileira que funcionou por quatro anos e meio em Berlim.
Descrita pelo então coronel Aurélio de Lyra Tavares – subchefe da missão e que em 1969 integraria a Junta Militar ditatorial que governou o Brasil antes de Emílio Médici – no livro Quatro anos na Alemanha Ocupada, a ação serviu de ponte de desembarque no Brasil de 5.885 brasileiros e 1.749 imigrantes que fugiam do Velho Continente arra-Sddo pelo conflito.
Na época, o Brasil, ao lado das potências aliadas, participou – de forma bem mais modesta – pela corrida por imigrantes qualificados, como engenheiros e técnicos, que pudessem ajudar no desenvolvimento nacional. Um dos documentos guardados nos arquivos da missão, no Ministério das Relações Exteriores, apresenta a situação em 20 de abril de 1947, quando 20.500 pessoas pediam para emigrar para o País. Desses, 17.800 eram casos de imigração propriamente dita; os demais queriam voltar ao território brasileiro.
Para deixar a Alemanha, o emigrante, brasileiro ou de outra nacionalidade, tinha de ser "desnazificado". Isso significava ser submetido a investigação para saber se tivera ligações reais com o partido ou o governo de Adolf Hitler ou se integrara as Forças Armadas alemãs ou as SS – as temidas tropas de elite de fanáticos nacional-socialistas. O trabalho era feito a partir de informações das agências de inteligência mantidas por americanos, franceses, britânicos e soviéticos nas zonas de ocupação.
Em alguns casos documentados nos arquivos da MMB em Berlim, essas investigações resultaram na retenção do investigado na Alemanha. O Conselho Aliado de Controle considerou nazistas "reais" todos os que entraram para a legenda antes de 1.° de maio de 1937. Mesmo assim, supostos nazistas "posteriores" a essa data foram investigados quando tentavam vir para o Brasil.
Foi o que aconteceu com Albertina Hermann, cidadã nascida em São Paulo. Segundo documento de 27 de fevereiro de 1947 do governo militar local, ela se filiou ao Partido Nazista em 17 de dezembro de 1941. "A situação de Albertina Hermann foi investigada para fins de repatriação ao Brasil, pela Região IV do Serviço Secreto (CIC), e não foi aprovada", diz o texto.